RETRATOS TEATRAIS

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3 avaliações de RETRATOS TEATRAIS

  1. Manuel Marcelino

    Na fotografia que o Manel escolheu para a publicitação desta sessão, eu estou bastante despenteada. Acho que ela ilustra muito bem o que eu vou dizer, ou seja exprimir pensamentos muito despenteados. É que é esse o meu forte, e se alguma vez fui uma Académica, fui uma académica muito despenteada…Dito isto, passemos ao que nos trouxe aqui.
    Quandi li “A Mosca”, pareceu-me ter uma certeza: O Manel é um “farsista” nato! A palavra não existia mas passa a existir. É que “farsante” passou a ter uma conotação pejorativa, claro! Farsantes eram os actores que interpretavam as farsas – logo, a sociedade só os podia ver como aldrabões, intrujões, pessoas em quem não se pode confiar. Portanto “farsista” passa a ser, para mim, aquele que recria artisticamente o mundo como uma farsa. Seguidamente pensei: o Manel é um filho legítimo do projecto artístico de “A Barraca” ou, mais especificamente, tem a marca teatral do Helder Costa. Quero dizer com isto que fala de coisas sérias, incómodas e até trágicas, com uma grande gargalhada, fazendo o leitor ou o público (futuro) gargalhar com ele. E apetece acompanhar a leitura com um copo de tinto – foi o que eu fiz – e, no meu caso, relembrar as gargalhadas sonoras do Manel quando, em tempos idos, girávamos por esse país dentro, levando connosco Gil Vicente e Ruzante, Guarnieri e Boal, para o oferecer a públicos que nunca tinham visto teatro, coisa que cada vez mais se torna impossível, não que não haja públicos sem teatro, não há é vontade política que isso aconteça. Mas já estou a ir por caminhos, que embora pertinentes, não me foram encomendados. Portanto voltemos à “Mosca” e ao 3º Pensamento. (E é de pensar que trata a obra, aliás a palavra mais vezes repetida no texto é a palavra “PENSAR”. Portanto – 3º Pensamento (despenteado, como já disse) : “A Mosca”é um texto teatral de um Autor/Encenador/Criador de Banda Desenhada. Vou tentar ser mais clara : Quando ele cria as cenas e as personagens da peça, ele vê-as, move-as, desenha-as, estiliza-as como numa história aos quadradinhos para adultos. A tradição de escritores/desenhadores e de dramaturgos/desenhadores que reinventaram o mundo com a sua arte já vem de longe, basta lembrar alguns – Almada Negreiros, Jean Cocteau, Mário Cesariny, Artaud, Ana Hartely, Baudelaire, Apollinaire, Valery, Mayakovski etc. etc.
    Mas é de Rafael Bordalo Pinheiro que me lembro com mais força quando leio os “Retratos Teatrais”. Aliás o Zé Povinho é uma das personagens do Manel, o Zé Povinho e o seu tetravô, o “Ninguém” do Mestre Gil. E porque é que me lembro do Bordalo Pinheiro? Isto até parece uma sessão de auto-análise! Mas é que o Teatro tem muito mais a ver com a intuição do que com a racionalização, embora tivesse sido isso que me foi pedido, mas eu já tinha avisado – o meu pensamento é despenteado. O Bordalo, para além das cerâmicas que adoro – antes de serem vestidas por uma … não sei como chamar-lhe…uma Mimi, artista oficial do governo passado…,o Bordalo, não sei se todos sabem, Andou na Escola de Artes Dramáticas e chegou a estrear-se como actor no Teatro Garrett. Foi obrigado pela família a desistir, mas nunca abandonou o teatro, quer como espectador quer como desenhador e caricaturista de actores e de faits-divers do mundo teatral do seu tempo, deixando-nos um legado iconográfico que nos permite visualizar o que teria sido o teatro na Lisboa oitocentista. Mas também me lembro do Bordalo, porque foi o primeiro autor português de Banda Desenhada – “O Calcanhar de Aquiles” de 1875 e, logo a seguir “ A Berlinda”, em que se afirmava como forte aliado das “Conferências do Casino” contra o obscurantismo e o reacionarismo da sua época. Portanto e para concluir o 3º Pensamento: O Manel bebe no Gil Vicente, come no Bordalo, respira no Helder, faz vénia ao Kafka e ao Teatro do Absurdo e dá largas à sua persistente e impiedosa observação da nossa sociedade e dos seus fantoches trágico-cómicos, porque é um homem que meteu a mão na massa com que se faz o Teatro.
    E agora só um desabafo – nos “Retratos” incomodou-me muitíssimo “ A Ocupação”. Vivi intensamente esses tempos, aliás como quase todos os que aqui estamos. Não tinhamos um pensamento comum, mas acho que todos acreditavamos seriamente nas nossas teorias e práticas políticas – partidárias ou não. Eramos jovens, com sangue na guelra, e queríamos transformar o sonho prometido pelo 25 de Abril numa realidade para nós, nossos filhos e netos . Muitos de nós tivemos conflitos ideológicos, houve separações dolorosas que duraram largos anos, fomos à luta e à luta pela vida, sentimo-nos vencidos, defraudados, indignados, vencemos algumas vezes, fomos vencidos quase sempre mas continuámos a lutar, de uma maneira ou de outra – neste caso através da Cultura e da Arte, convocados por um Amigo desses tempos. Estamos vivos e não dobrámos a espinha. Aleluia! Mas o texto do Manel fez-me relembrar pessoas e reviver situações tão feias, que durante toda a leitura, o copo de tinto ficou esquecido e o meu estômago deu um nó. Aquelas personagens caricaturizadas adquiriram corpos e vozes de gente real com quem me cruzei, gente que me causou mágoa e nojo, gente que nunca mais me apeteceu ver mas que anda aí, na maior parte dos casos, impante e olimpicamente soberana, desmandando mas subserviente – aos patrões nacionais ou europeus ou americanos ou…ou…seja o que for que lhes dê mordomias e que se lixe o resto. A estes, Manel, não é preciso recomendar que pensem. Eles sabem demasiado bem o que pensar e como pensar. A estratégia é o seu prato forte. Estes é que são donos de estratégias para sufocar o pensamento dos outros, e têm tido algum sucesso. Parabéns Manel, conseguiste com o teu escárneo reviver o nojo que sinto por essa gente.

    Fernanda Lapa
    2 de Novembro 2016

  2. Manuel Marcelino

    ler o que a Fernanda Lapa escreveu

  3. Manuel Marcelino

    teatro actual e políticamente incorrecto

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