Ler por aí… no Panamá

Ler por aí… no Panamá

“Frère Jacques
Frère Jacques
Dormez-vous?
Dormez-vous?
Sonnez les matines!
Sonnez les matines!
Ding dang dong
Ding dang dong…

Esta é a interminável canção do navio.
Esta é a máquina do Diderot: o cânone interminavelmente repetido…
Partida de Vancouver, Colômbia Britânica, Canadá, meia-noite, 7 de Novembro, 1947, N/M Diderot, para Roterdão.
Chuva, chuva e céu negro o dia todo.”

“- O albatroz, à meia-noite, aninhou-se no mastro, o grande bico, visto da ponte, doirado na luz movente: quando o bico estava lá fazia uma terceira luz. Finalmente afastou o bico e só se podia ver, de bombordo, as penas da cauda. Era o albatroz mãe. Ficou ali a noite inteira, enquanto no outro mastro, à ré, estavam cinco jovens albatrozes, aninhados juntos, negros… A mãe albatroz trouxera a sua ninhada para bordo para descansar.

Nov. 26. De manhã os tripulantes apanharam um deles para Primrose. O albatroz bebé na amurada com seus pés vermelhos e bico de esmalte azul e penas cor de corça, sibilando. Depois, para minha alegria, soltaram-no. ..

Frére Jacques, Frère Jacques. Dormez-vous? Dormez-vous?

A Costa do Panamá é como o País de Gales. O velho Charon não quis vir ver o albatroz. Depois da captura do albatroz, mais coisas excitantes (…)”

Através do Canal do Panamá

Esta é a viagem de Sigbjorn Wilderness e Primrose, de Vancouver para Roterdão, a bordo do N/M Diderot, entre 7 de Novembro e 17 de Dezembro de 1947. A narrativa pára no Farol de Bishop, ao largo da costa da Cornualha, Inglaterra, com o navio destroçado, após uma violenta tempestade.

A viagem é narrada sob a forma de diário, com o ruido do motor do barco em fundo, como uma canção, frère jacques… Uma viagem narrada como uma colagem, com excertos de outras origens na margem do texto, e atravessada por personagens e episódios da obra de Lowry e de outros. Sigbjorn Wilderness passou o Canal do Panamá a Ler por aí… The Bridge of Water, de Helen Nicolay, um livro que relata a história do canal desde a génese da idéia de William Paterson de unir os dois oceanos, em 1698.

As aves acompanham toda a viagem. As bebidas alcoólicas também – tequilla, mezcal ou rum. Ou Pinard. A paisagem das duas margens, vista a partir de bordo, faz lembrar alfaces, espinafres e chicórias.

 

 

Malcom Lowry

Foto retirada do The Guardian https://www.theguardian.com/culture/series/art-beat%2Bbooks/malcolm-lowry

Malcolm Lowry foi um escritor inglês, a sua escrita viaja pelo México, Canadá, Itália e outros lugares do seu mapa. Nasceu em New Brighton em 1909 e estudou em Cambridge. A carreira como corrector de algodão que o pai ambicionava para ele não foi tão apelativa como a literatura. As viagens e o álcool deram-lhe matéria e inspiração para a escrita.

Ultramarina (1933) foi o primeiro romance de Malcolm Lowry; Debaixo do Vulcão (1947) é a sua obra prima, publicada a seguir à viagem de Vancouver para Roterdão que esteve na origem de Através do Canal do Panamá (1961).

 

O Canal do Panamá

Foto retirada do site InfoSur Hoy http://www.infosurhoy.com

O Canal do Panamá une o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico no ponto em que estão mais próximos (separa-os um istmo com cerca de 40 milhas, com a América do Norte de um lado e a América do Sul do outro lado).

O fascínio do Canal do Panamá, para além da espantosa obra de engenharia, prende-se com a diferença de 24 cm entre o nível das águas de cada um dos oceanos, contrariando o princípio dos vasos comunicantes.

Margarida Branco
© Ler por aí… (2013)

 

 

 

 

 


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