Ler por aí… em Lisboa, e outras cidades, que também são recordadas: A História de Roma, de Joana Bértholo

Ler por aí… em Lisboa, e outras cidades, que também são recordadas: A História de Roma, de Joana Bértholo

Hoje passei muito tempo a ver fotografias daquele ano, dez anos atrás. Uma em particular, a única que tenho de Buenos Aires quando tu já não estavas. É uma foto de grupo. De pé, eu, o Juan e a Osa. O Juan segura um pincel e uma capa de cartão, que finge pintar. Sentados à nossa frente, o Ricardo, com o queixo cortado pelo enquadramento, e um rapaz de quem esqueci o nome. Pouco se vê da cartoneria: na parede atrás de nós a imagem de Che Guevara, a preto e branco, de charuto alçado, junto a duas insígnias de cartão. Uma brada Eloísa Cartonera num abuso de cores disponíveis e outra, pintada de amarelo e azul, carrega a sigla CABJ – Club Atlético Boca Juniors.”

Esta história é contada numa sucessão de recordações de Buenos Aires, mas que nos levam também a Beirute, Marselha e Berlim. Quem recorda – uma tal Joana (Chuana?) está em Lisboa, no solstício do Verão, e depois em Maputo, no equinócio da Primavera. São nove meses entre o solstício do Verão e o equinócio da Primavera – será uma coincidência esta contagem?

As recordações aparecem ao longo de dez dias – a duração da visita deste rapaz, suíço, que Joana conhecera dez anos antes em Buenos Aires. Recorda esse tempo em conversas com ele, o rapaz suíço, e com uma amiga. E consigo própria, mas na segunda pessoa (li algures que, de todas as formas de narração, a narração na segunda pessoa é a mais difícil). 

As passagens pelas cidades de Beirute, Marselha e Berlim são uma busca obsessiva – e como sempre, quando deixamos de procurar, aquilo que procurávamos aparece!

Os sonhos que se concretizam quando já não precisamos deles.”

Joana passeia o rapaz suíço por Lisboa: andamos com eles por Santos (o Museu Nacional de Arte Antiga), Campo Grande (o Museu Bordalo Pinheiro), Marquês de Pombal (a Estufa Fria), a Almirante Reis e o Intendente (a Casa Independente), Alfama e Graça, Santa Apolónia, Terreiro do Paço (o Martinho da Arcada) e Chiado (e as Belas Artes). E com isto, vejo que acabo de criar um circuito para este livro!

Mas há ainda passagens pelo Parque das Nações, Costa da Caparica, Trafaria, Belém, Algés, Paço de Arcos, Estoril (a praia do Conde de Azarujinha), Cascais (a Boca do Inferno) e o Guincho. Este convém fazer de carro. A nossa Joana (personagem) usou algumas vezes o transporte público – mas foram dez dias – e outras vezes, usou um carro emprestado. 

Trajectos e trajectórias. As reais e as que poderiam ter sido. As memórias reais e as memórias que já não sabemos muito bem. As que inventamos, e depois já não sabemos muito bem.

Joana Bértholo toca lá no fundo de todas as mulheres, as que são mães, e as que são não-mães. À procura do outro, esta Joana encontra-se, aceita-se, aceita o seu destino e aceita os seus não-destinos. Aqui Roma não é uma cidade. É um não-ser. 

Vê aí na net se há muita gente com esse nome.”

Joana Bértholo

Joana Bértholo, foto de Vitorino Coragem
Joana Bértholo, foto de Vitorino Coragem

Escritora e dramaturga, Joana Bértholo nasceu em Lisboa, em 1982. 

Licenciada em Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e Doutorada em Estudos Culturais pela European University Viadrina, na Alemanha. 

Publicou na Editorial Caminho vários romances, livros de contos e literatura infantil. Ecologia foi semifinalista do Prémio Oceanos 2019, finalista do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, finalista do Grande Prémio de Literatura DST e nomeado para o Grande Prémio Adamastor de Literatura Fantástica Portuguesa 2019. Recebeu diversos outros prémios. 

A História de Roma é o seu romance mais recente.

Lisboa

Intentente, o Kit Garden de Joana Vasconcelos - foto da Câmara Municipal de Lisboa
Intentente, o Kit Garden de Joana Vasconcelos – foto da Câmara Municipal de Lisboa

Que mais posso escrever sobre Lisboa? Depois disto, disto, disto, disto, disto, disto, disto e disto?

A verdade é que Lisboa é inesgotável! 

A Lisboa deste livro é a Lisboa do orgulho lisboeta – a Lisboa que gostamos de mostrar aos amigos estrangeiros. Mas quando mostramos a beleza (inegável) desta cidade, deparamos também com os seus problemas. 

Certos da carga afectiva que alguns lugares têm na nossa história pessoal, somos confrontados com o vazio de significado que eles são afinal para quem nos acompanha.

É talvez o que se passa com o Intendente. Tive a minha livraria na Casa Independente, e por isso a referência a este lugar de encantos é para mim, pessoalmente, carregada de memórias e de afectos.

Margarida Branco
© Ler por aí… (2023)

(…) que eventualmente nos encontrámos para tomar copos naquele largo com a ‘escultura dos corações e a fonte’, e eu disse ‘Sim, o Largo do Intendente’. (…) somente a vaga ideia de ter posto um casaco de malha azul sobre os ombros ao sair da Casa Independente.”

E ser turista em Lisboa?

Booking.com

Se é de fora de Lisboa, e planeia uma visita a Lisboa, ou se é de Lisboa e gostava de viver a sua cidade como um turista, nem que seja só por um fim de semana, marque a sua viagem na Booking através do link à esquerda: para si, não tem custos adicionais, e para nós faz toda a diferença. É um link de afiliado, através do qual podemos receber uma pequena comissão que ajuda a manter o projecto Ler por aí… Muito obrigada!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.