Ler por aí… onde quiser

“In the winter of 1977 Gianni Guadalupi, with whom I had collected an anthology of true and false miracles for a Parmesan publisher, suggested that we prepare a short Baedecker or traveller’s guide to some of the places of literature –he was thinking at the time of a guided tour of Paul Féval’s vampire city, Selene. Excited by the idea, it did not take us long to compile a list of other places we felt we would like to visit: Shangri-la, Oz. Ruritania readily sprang to mind.
We agreed that our approach would have to be carefully balanced between the practical and the fantastic. We would take for granted that fiction was fact, and treat the chosen texts as seriously as one treats the reports of an explorer or chronicler, using only the information provided in the original source, with no “inventions” on our part. Personal comments would be included only if the description called for them, and then only to the extent that one would expect in a normal guidebook. With this intention, we based the design of the book on a nineteenth-century gazetteer – the relic of a time when travelling in the real world was still fantastic and adventurous.”(Tradução livre:)
“No inverno de 1977 Gianni Guadalupi, com quem eu tinha coligido uma antologia de verdadeiros e falsos milagres para um editor de Parma, sugeriu que preparássemos um breve Baedecker ou guia de viagem para alguns lugares da literatura – na altura ele estava a pensar numa visita guiada à cidade dos vampiros de Paul Féval, Selene. Entusiasmados com a ideia, não nos levou muito tempo a compilar uma lista de outros lugares que sentíamos vontade de visitar: Shangri-la, Oz, Ruritania vieram-nos logo à mente.
Acordámos que a nossa abordagem teria de ser cuidadosamente equilibrada entre o prático e o fantástico. Assumiríamos sem reservas que a ficção era facto, e trataríamos os textos escolhidos com tanta seriedade como se tratam os relatos de um explorador ou cronista, utilizando apenas a informação disponível na fonte original, e sem “invenções” da nossa parte. Comentários pessoais seriam incluídos apenas se a descrição apelasse a eles, e nesse caso, apenas na medida em que os esperaríamos num guia turístico normal. Com esta intenção, concebemos o livro baseando-nos numa gazeta do século dezanove – o resquício de um tempo em que viajar no mundo real ainda era fantástico e aventuroso.”
O site Ler por aí… faz este mês um ano. E para assinalar esta data, resolvemos dar finalmente alguma liberdade aos nossos leitores, e deixá-los ler o livro sugerido onde quiserem. Isto porque desta vez, sugerimos um livro diferente: é um livro para Ler por aí… em lugares imaginários!
Este Dicionário de Lugares Imaginários ainda não está traduzido em português de Portugal – atenção editoras – e por isso é também uma estreia no Ler por aí…, já que ainda não tinha havido uma sugestão em língua estrangeira. Não será a última, espero que ninguém se zangue.
No Dictionary of Imaginary Places podemos “visitar” os mais diversos lugares imaginários da literatura, fantástica e não só, de todos os tempos. O critério único dos autores foi que os lugares apresentados tinham que ser possíveis (nada de lugares futuros nem celestiais, apenas lugares que se enquadrem na geografia do nosso planeta).
Segue-se uma pequena amostra destes lugares, com um lugar imaginário para cada letra do abecedário:
A: a Abadia que Umberto Eco criou em O Nome da Rosa;
B: a Babel da Biblioteca de Jorge Luís Borges;
C: o castelo de Carabás, na história d’ O Gato das Botas, de Perrault;
D: o castelo de Drácula, que Bram Stocker criou nos Cárpatos;
E: Eastwick das bruxas de John Updike;
F: Fantástica, a terra d’A História Interminável de Michael Ende;
G: Gondor, na Terra Média de J. R. R. Tolkien;
H: Hogwarts, a escola de magia de Harry Potter (J. K . Rawling);
I: Innsmouth de Lovecraft;
J: o Parque Jurássico, de Michael Crichton;
K: a ilha de King Kong (filme de Merian Cooper e Ernest Shoedsack);
L: Lilliput, a ilha onde Jonathan Swift fez desembarcar Gulliver;
M: a terra Média de J. R. R. Tolkien;
N: Narnia de C. S. Lewis;
O: Oz, o país do feiticeiro criado por L. Frank Baum;
P: a ilha de Prospero, d’A Tempestade de William Shakespeare;
Q: a ilha de Queen, descoberta pelo capitão Hatteras de Jules Verne;
R: a ilha de Robinson Crusoe de Daniel Defoe;
S: Shangri-la de Edgar Allan Poe e outros;
T: a ilha do Tesouro de Robert Louis Stevenson;
U: Utopia de Thomas More;
V: Valdrada, uma das cidades invisíveis de Italo Calvino;
W: Wonderland, para onde Lewis Caroll enviou Alice;
X: Xanadu de Samuel Taylor Coleridge;
Y: Yoka de Edgar Rice Borroughs;
Z: Zuy, nos reinos de Elfin, de Sylvia Townsend Warner.
Alberto Manguel
Alberto Manguel nasceu em Buenos Aires em 1948 e passou parte da infância em Israel. Conheceu Jorge Luís Borges ainda durante a adolescência. Aos dezoito anos decidiu não prosseguir os estudos na universidade, e em vez disso, estudar sozinho. Tradutor, escritor e crítico literário, viveu no Tahiti, Europa e Canadá (Manguel naturalizou-se canadense em 1985). O Canadá inspirou a novela News from a Foreign Country Came (1991), que ganhou o Prémio McKitterick. O The Dictionary of Imaginary Places foi publicado pela primeira vez em 1980. Uma História da Leitura é o único livro de Manguel publicado em Portugal (Presença, 1998). Escreveu diversos livros em parceria, incluindo-se entre os seus parceiros de palavras Marguerite Youcenar, Júlio Cortazar e Amin Maalouf. Fez crítica literária para o Times Literary Supplement, entre outros. Vive actualmente em França, onde recuperou uma casa rural medieval.
Gianni Guadalupi
Guadalupi tem uma presença por demais discreta na Internet – sabe-se que nasceu em 1943 e que é tradutor, editor, escritor e coleccionador de livros, interessando-se sobretudo pelo tema das viagens. Colaborou com várias revistas de viagens.
Margarida Branco
© Ler por aí… (2007)
Deixe um comentário