Ler por aí… numa ilha

“Camila e eu tínhamos vindo a Iona há muitos anos, trazidos pela evocativa descrição de uma abadia medieval de costas voltadas ao mar, entre duas magníficas cruzes célticas de St. John e St. Martin e um pequeno cemitério que guardava os restos mortais de um santo e muitos reis. Havia também ovelhas, pastando entre as pedras veneráveis.
Na palavra nostálgica do velho poeta alcoolizado, que conhecemos de outros serões em casa de amigos comuns, essa ilha escocesa, uma das menores entre as quinhentas Hébridas, ganhara efeitos exponenciais que julgámos exagerados mas que, à revelia da nossa melhor prudência, ficaram a crescer dentro de nós dois, gerando esperanças e desejos.”
Em Ilhas Contadas contamos dez ilhas, em dez contos. Dez contos sim, dez ilhas não. Oito ilhas, uma vez que a Ilha da Madeira, e o Funchal, são cenário de três destas histórias. Helena Marques não nasceu no Funchal, mas ali viveu toda a infância e juventude.
O primeiro conto, “Regresso a Iona”, tem como cenário a ilha de Iona, pertencente ao arquipélago das Hébridas, ao largo da costa ocidental escocesa. O ambiente é monástico e silencioso – não é permitida a circulação a veículos motorizados a não residentes. Helena Marques fala na “pureza primordial” daquela paisagem.
Passando por ilhas mediterrânicas (Hydra, Patmos, Malta) e atlânticas (Madeira, Porto Santo e Faial), a colectânea fecha com Jersey, a sul de Inglaterra, uma ilha que no tempo de William, pertencia à Normandia e via a própria Inglaterra como uma colónia.
Uma ilha tem as suas particularidades, e Helena Marques conhece-as bem, e projecta-as neste livro. A comunidade fechada, a terra exigua, o mar sempre presente e a chamar a uma evasão, fazem parte do património experiencial dos ilhéus.
Este livro é para ler enquanto espera pelo embarque, ou já no trajecto (se não enjoar), para uma ilha.
Helena Marques

Helena Marques nasceu em 1935, em Carcavelos. Filha de pais madeirenses, viveu toda a infância na ilha da Madeira, e inicia no Diário de Notícias do Funchal a sua carreira no jornalismo. Aos 36 anos fixa-se em Lisboa, continuando o seu trabalho no jornalismo.
A publicação do primeiro romance (O Último Cais, 1992) coincidiu com o fim da sua carreira no jornalismo, e marca o início de uma carreira na escrita de ficção. Este primeiro romance mereceu o Prémio Revista Ler/Círculo dos Leitores e o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, e outros. Seguiram-se A Deusa Sentada (1994, passado na ilha de Malta), Terceiras Pessoas (1998, passado no Ribatejo), Os Íbis Vermelhos da Guiana (2002, passado na Guiana – República Cooperativa, antiga colónia inglesa), este Ilhas Contadas (2007) e O Bazar Alemão (2010, passado na ilha da Madeira).
Ilhas

Existem centenas de ilhas em todo o mundo. Todas rodeadas por mar.
Nesta página estão listadas as 178 ilhas com áreas superiores a 2.500 m2 – nenhuma das Ilhas Contadas está nesta lista. São todas ilhas mais pequenas, mas maiores no encanto.
Margarida Branco
© Ler por aí… (2011)
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