Ler por aí… em Berlim, Alemanha

Ler por aí… em Berlim, Alemanha

“A Tia Sophie é aquela figura esquelética de faces cavadas, vestida com uma camisa de hospital cheia de nódoas, que, com os seus olhos avermelhados semicerrados, me olha fixamente da sua cama de hospital, como se eu fosse uma alucinação. Tem um cachecol de lã escarlate enrolado à volta do pescoço e a minúscula mão direita enterrada dentro de uma luva preta gigantesca que mantém em concha sobre o colo, com a palma de couro virada para cima; parece um enxerto da mão de um gorila.
Embora Sophie vá passar a semana inteira à procura da outra luva por entre as almofadas e os lençóis, e embora vá insistir comigo para que exija a sua devolução a todas as enfermeiras do piso, ela vai continuar perdida para sempre no meio da folhagem que cobre os terrenos à volta do Hospital da Universidade.”

(artigo com actualização)

 

Berlim é um lugar de ambiguidades, não só para judeus. Sendo uma cidade muito atraente, tem também recordações terríveis. Em A Sétima Porta, a heroína procura resgatar a sua cidade, recuperar as suas recordações, apesar de tudo aquilo que nela vê acontecer.

Neste livro, Richard Zimler conta a história de mais um Zarco, descendente de Berequias que conhecíamos de O Último Cabalista de Lisboa e de Goa ou O Guardião da Aurora. Não é mais um livro sobre o nazismo e os campos de concentração. Aqui é apresentada uma perspectiva nova do Holocausto, que não atingiu apenas os judeus. Aqui ficamos a conhecer o holocausto, não menos horrível, dos seres “imperfeitos”, os deficientes.

A apresentação de A Sétima Porta foi no passado dia 27 de Setembro, e contou com a participação emocionada da jornalista e amiga do autor Maria João Seixas. Ainda não acabei de ler o livro. Não quis, no entanto, deixar de dar destaque a este momento, e a este autor que é um dos que mais admiro. Fica a promessa de, quando terminar de lê-lo, voltar a esta página.

 

 

Richard Zimler

Foto retirada do site da Webboom www.webboom.pt

 

Richard Zimler nasceu em Nova Iorque em 1956. Licenciou-se em Religião Comparada pela Universidade de Duke e fez o Mestrado de Comunicação da Universidade de Stanford. Tendo trabalhado como jornalista durante oito anos na zona de São Francisco, mudou-se para o Porto em 1990.

Embora já tivesse escrito diversos contos e merecido em 1994 o prestigiado prémio Fellowship in Fiction da U.S. National Endowment for the Arts, O Último Cabalista de Lisboa (1996) é o seu primeiro romance. Faz parte do “Ciclo Sefardita” e foi traduzido em mais de dez idiomas, tendo sido best seller em dez países.

Seguiram-se Unholy Ghosts (1996, não traduzido para português), Trevas de Luz (1998), Meia Noite ou O Princípio do Mundo (2003), Goa ou O Guardião da Aurora (2005) e À Procura de Sana (2006). A Sétima Porta (2007) é o seu mais recente romance.

Para além de romancista, é também professor de Comunicação na Universidade do Porto e tradutor de autores de língua portuguesa, como Al Berto, António Botto, Ilse Losa, Nuno Júdice, Pedro Tamen, e Pepetela.

 

 

 

Berlim

Foto retirada do site Vorort Prenzlauer Berg

Berlim é uma cidade em que a modernidade e o ambiente cosmopolita não prejudicam a qualidade de vida. Ali vivem pessoas de cerca de 180 nacionalidades e é a segunda cidade mais populosa da Europa, a seguir a Londres. Em Berlim, podemos no entanto, tirar partido da cidade sem andar em correrias – e os berlinenses sabem como fazê-lo. Saem cedo do trabalho para poder aproveitar aquilo que a cidade tem para oferecer. Passeiam nos parques e à beira dos rios e lagos, visitam museus e exposições e assistem a concertos e espectáculos. Em Berlim há sempre variedade de alternativas de lazer.

Sem querer apagar o passado, é uma cidade virada para o futuro. Nas ruas, restam ainda alguns vestígios da cidade anterior aos bombardeamentos. Quanto ao muro, está bem assinalado. Uma linha branca segue todo o seu traçado original. Visite o museu, no Checkpoint Charlie. Visite também o Museu dos Judeus, cuja história tem início em 1933, tendo sido encerrado no terceiro Reich e re-aberto em 2001 com uma arquitectura muito arrojada, e onde se pode conhecer a história de dois mil anos dos judeus em Berlim e na Alemanha.

 

Margarida Branco
© Ler por aí… (2007)

 

 

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