Ler por aí… em Barcelona, Espanha
Recordo-me da estranha humidade durante esse primeiro setembro que passei na cidade. Recordo-me do cheiro a ranço e do ruído constante quando os lojistas subiam e desciam os estores de aço. Recordo-me do som dos carros e das motos a reverberar contra os velhos edifícios de pedra, do som de passos e das vozes que ecoavam nas ruas estreitas. Estava-se em 1975, dois meses antes da morte do general Franco. Eu tinha vinte anos e acabara de chegar a Barcelona.”
O Ler por aí… Café abriu em Março, ocupando o espaço de um bar catalão. Faz um ano que ocupámos este espaço. É com um abraço à Clara e ao Paulo, do Taranná – Espai Barcelona, que este mês estamos a Ler por aí… em Barcelona.
Nesta Homenagem a Barcelona, que também queremos prestar, Colm Tóibín mostra-nos a cidade no espaço e no tempo, público e privado. Pode ser usada como guia turístico, mas é mais do que isso. Relata os vários momentos históricos de Barcelona e da Catalunha, visita os diferentes bairros da cidade, e alguns subúrbios, foca-se em certos personagens da política e das artes catalãs, e a seguir afasta-se para retratar a sociedade e encontrar a identidade catalã.
Percebemos que o catalão não é espanhol, nem é francês, nem é provençal. É catalão. Refiro-me ao catalão – língua e ao catalão – povo.
O passeio começa nas Ramblas, com o “correfoc”, a festa dos demónios e dragões que tem origem (pelo menos) na idade média, e na lenda de São Jorge (San Jordí). Segue para o Bairro Gótico, que assenta sobre Barcino, a cidade romana, e ostenta os palácios de príncipes-mercadores da época de ouro. É também local de vida nocturna, e daqui Tóibín parte para o périplo noctívago da cidade. Em seguida, o périplo arquitectónico e urbanístico, vê-se melhor de dia. A noite e o dia são chaves para compreender a sociedade catalã.
Este é o pretexto para seguir para a Barcelona de Gaudi. De seguida, para a Barcelona de Picasso, para a Barcelona de Miró e para a Barcelona de Pau Casals. Só no capítulo sobre a Guerra Civil é que surgem referências a Homenagem à Catalunha (1938), de George Orwell. Os últimos capítulos retratam a Barcelona pós-Franco, a Barcelona de Dalí, a Barcelona e a Catalunha veraneante, das festas e das praias, e finalmente a Barcelona dos Jogos Olímpicos e de Tapiés.
Todo o livro é atravessado pela tensão entre a força homogenizadora da Espanha e a resiliência da identidade catalã.
Colm Tóibín
Colm Tóibín nasceu em 1955 na Irlanda. Estudou na University College Dublin e partiu para Barcelona no final da licenciatura. Desta viagem resultou esta Homenagem a Barcelona (1990) e o romance The South (1990).
Ao regressar à Irlanda, em 1978, iniciou uma carreira como jornalista. Foi editor na revista Magill e no jornal In Dublin. Em 1985 deixou o jornalismo e viajou para África e para a América do Sul. O seu trabalho como jornalista está coligido em The Trial of the Generals (1990).
Escreveu romances, contos, peças de teatro e ensaios, e a sua obra está traduzida em dezassete idiomas. Brooklyn (2009) é o seu romance mais conhecido, tendo sido adaptado ao cinema em 2015 por John Crowly, com argumento de Nick Hornby. Brooklyn está publicado em Portugal pela Bertrand Editora.
O romance O Testamento de Maria (2012) resultou de uma primeira peça de teatro, O Testamento, escrita também por Tóibín e encenada em 2011 para o Dublin Theatre Festival. O romance foi por sua vez encenado em 2013 no Walter Kerr Theatre, na Broadway, e mereceu simultaneamente prémios e acusações de blasfémia. Em 2015, o romance foi novamente levado à cena, pela Sydney Theatre Company e também pela companhia Malthouse Theatre de Melbourne. Foi publicado como audio-livro em 2013, com a voz de Meryl Streep.
Colm Tóibín tem leccionado em faculdades na Irlanda, Inglaterra e Estados Unidos – destaque para a sua cátedra de Escrita Criativa na Universidade de Manchester, onde sucedeu a Martin Amis. Actualmente ensina na Universidade de Columbia, em Nova York. Vive em Dublin.
Barcelona
“Barcelona é uma cidade de perdição!”, alertou-me o obstetra quando, grávida de cinco meses, lhe contei que ia passar uns dias a Barcelona. De facto.
Em Barcelona, imergimos em arte, arquitectura, moda, gastronomia, vida nocturna. As ramblas são extensas, e entretém: há sempre algo a acontecer. Daí que facilmente caminhamos quilómetros sem nos apercebermos.
É uma cidade original e com forte carácter. É local e cosmopolita, histórica e contemporânea. É como se fosse uma capital europeia, só que não é.
Margarida Branco
© Ler por aí… (2019)
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