Ler por aí… na Austrália

Ler por aí… na Austrália

“Em Alice Springs – uma grelha de ruas escaldantes onde homens de meias brancas compridas estavam constantemente a entrar e a sair de Land Cruisers – encontrei um russo que andava a traçar o mapa dos locais sagrados dos Aborígenes.

Chamava-se Arkady Volchok. Era cidadão australiano. Tinha trinta e três anos de idade.”

Faltava um continente: o mapa do Ler por aí… já tinha marcado pontos de leitura na Europa, na África, na Ásia, nas Américas, do Sul, do Norte, Central… mas não tinha nada na Oceania.

Esta leitura australiana surgiu quando pedimos sugestões para completar esta falta. E quando recebi, quase ao mesmo tempo, um email e uma mensagem pelo Facebook, a indicar Songlines, pensei, “mas é claro, como é que não me lembrava deste livro…”

Songlines transporta-nos para a Austrália contemporânea (anos oitenta), e mostra-nos a luta dos povos nativos australianos pela defesa daquilo que é para eles mais sagrado: a terra, e nela as lendas ancestrais, narradas em forma cantada e gravadas na rocha nos próprios lugares onde essas histórias terão acontecido – e isto é tão Ler por aí…

Chatwin conta a sua viagem à Austrália na primeira pessoa, acompanhado desde a primeira página pelo russo Arkady. Arkady Volchok tinha aceite a missão de mapear todos os lugares e trilhos sagrados dos aborígenes, para que a construção da linha férrea entre Alice Springs e Darwin não os destruísse.

Pela mão de Arkady, Chatwin contacta com alguns dos mais importantes representantes e guardiães desta cultura complexa. Por muitos é recebido com desconfiança, uma desconfiança perante o “homem branco” colonizador. Ao longo do livro, vemos Chatwin, de conversa em conversa, a dar definição à imagem que vai formando da cultura aborígene.

A certo ponto, na segunda metade do livro, surgem reflexões, anotações, citações, textos que Bruce Chatwin revisita e aqui reune. São textos sobre o nomadismo, o carácter nómada do ser humano, o apelo de partir. A cultura aborígene é uma cultura nómada. Os seus mitos são trilhos.

Bruce Chatwin

Foto retirada da Wikipedia, aqui.

Bruce Chatwin nasceu em 1940 na zona de Sheffield, Yorkshire, em Inglaterra. Quando o seu pai regressou da guerra, a família mudou-se para Birmingham, onde Chatwin passou a maior parte da infância. Em casa havia uma pele de perguiça, trazida da Patagónia por um tio, e que Chatwin idolatrou em criança. Desde então não largou o sonho de ir ver a gruta em que o animal tinha sido encontrado.

Começou a trabalhar em Londres como porteiro da Sotheby’s, e rapidamente se tornou num perito em Impressionismo. Frequentou Arqueologia na Universidade de Edimburgo e participou em expedições arqueológicas ao Afeganistão e ao Egipto, onde começou a sua admiração por um estilo de vida nómada e livre de bens materiais.

Trabalhou como jornalista na London Sunday Times Magazine, como assessor de arte e arquitectura, e nesta época entrevistou e conheceu diversas figuras famosas, como o escritor André Malraux e a arquitecta Eileen Gray.

Os seus livros utilizam a sua vasta experiência de vida e de mundo.

Bruce Chatwin morreu em 1989, deixando-nos o seu testemunho como viajante e estudioso de territórios, povos e seres humanos.

Austrália

Foto de redazioneblogprof retirada do Flickr, aqui.

 

A Austrália é um território extenso como um continente. Tem dentro dos seus cerca de 7,5 milhões de quilómetros quadrados uma grande diversidade de paisagens, climas, povos… Tem cidades ocidentais, e tem territórios por desbravar, os territórios sagrados dos povos aborígenes (plural, sim). Comece o seu percurso em qualquer ponto – os trilhos estão por toda a Austrália. Mas é preciso conhecer.

Margarida Branco
© Ler por aí… (2019)

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