9 livros sobre o judaísmo em Portugal
A propósito de A Aldeia das Almas Desaparecidas, de Richard Zimler, é interessante passar em revista alguns livros que nos mostram como a presença dos judeus foi importante, e muito antiga em Portugal.
Há registo da existência de famílias judias em Portugal desde o século IV, mas é provável que a sua existência na Península Ibérica seja muito anterior: Na sequência da destruição do templo de Jerusalém, primeiro no ano 70 e depois no ano 135, o povo judeu foi proibido de permanecer em Jerusalém e teve que fugir. Alguns refugiaram-se na Península Ibérica — são os chamados judeus sefarditas, que aqui permaneceram durante quinze séculos, conhecendo os domínios romano, árabe e cristão. No final do século XV, os que não sairam com o édito de expulsão de D. Manuel I, foram convertidos à força — os chamados cristãos-novos.
Como este A Aldeia das Almas Desaparecidas, que retrata a vida dos judeus de Castelo Rodrigo, perseguidos pela Inquisição, no século XVII, há vários livros de Richard Zimler que acompanham a família Zarco, de cristãos-novos, em diferentes gerações e em diferentes momentos da história:
O Último Cabalista de Lisboa (1996) é o primeiro, situado em Lisboa em 1506, no momento que se segue à expulsão e conversão forçada, em que ocorre o terrível massacre (pogrom). Seguem-se: Meia Noite ou O Princípio do Mundo (2003), passado no Porto no início do século XIX; Goa ou O Guardião da Aurora (2005), que nos transporta para o final do século XVI e para a cruel Inquisição de Goa; À Procura de Sana (2006), que nos leva para a Austrália e depois para Paris e Israel, e em que o próprio autor é também personagem; A Sétima Porta (2007), onde um Zarco nos aparece na Berlim nazi, ou Os Anagramas de Varsóvia (2009) no gueto de Varsóvia, na Polónia ocupada; e Os Dez Espelhos de Benjamin Zarco (2018), sobre um descendente de um sobrevivente ao holocausto nazi, em pleno século XXI.
Mas este artigo pretende dar-lhe, a si, meu leitor, pistas para a compreensão desta História que não passa pelos livros da escola. Por isso, reuni alguns dos livros sobre o assunto, que importa conhecer:
Esther Mucznic é uma autoridade no que toca ao tema do judaísmo em Portugal. Neste livro, percorre a história de mais de dois mil anos, que é feita de momentos tranquilos, em que o seu papel foi decisivo para o desenvolvimento do país, e momentos obscuros. Um excelente ponto de partida para explorar o tema.
Este volume junta textos sobre várias judiarias do país – Lisboa, Belmonte e Tomar são as mais conhecidas, mas também Alcácer do Sal, Óbidos, Torres Vedras, Lagos e Freixo de Espada à Cinta, bem como outros textos que nos contam sobre a vida dos judeus desde o período romano até ao século XX em Portugal.
Um livro muito bonito, com belíssimas fotografias e blocos de selos emitidos nas séries A Herança Judaica em Portugal (2004) e As Judiarias de Portugal (2010). Funciona muito bem como guia para quem queira fazer o périplo das judiarias portuguesas.
Este é um trabalho monumental, que contou com contribuições de diversos investigadores, incluindo Esther Mucznik, Joaõ Paulo Borges Coelho e Irene Flunser Pimentel (para citar apenas os mais conhecidos). Importante obra de referência, que permite abrir algumas portas que parecem fechadas ao lermos outras obras.
No início do século XX, este engenheiro de minas polaco, Samuel Schwarz, descobriu uma comunidade cripto-judaica em Belmonte. Neste livro, documenta os costumes e rituais preservados durante quatro séculos de prática secreta da religião, alguns que poderemos reconhecer sem saber da sua origem — por exemplo, não virar o pão ao contrário. Fascinante!
Uma recolha de receitas que espelha os hábitos de comunidades cripto-judaicas de Trás-os-Montes, passados de geração em geração, pelas mulheres, e espantosamente preservados ao longo de séculos de perseguição. Muitas destas receitas fazem parte da gastronomia regional, o que demonstra que as famílias judaicas que as preparavam e consumiam eram, mais do que tudo, famílias transmontanas. Ilustrado com fotografias de Valter Vinagre.
Este é um relato da presença judaica na cidade de Lisboa, dando a conhecer o que ainda resta (e se adivinha) das judiarias que existiram até ao início do século XVI, e que, não fosse o terramoto de 1755, ainda poderíamos encontrar o seu recorte. Esta é apenas a parte que diz respeito ao período medieval, pois o autor segue narrando ao longo da Idade Moderna e até ao século XX e XXI.
Romance biográfico de uma dama portuguesa, judia, dona de uma fabulosa fortuna, no século XVI em Lisboa. O seu nome era Gracia Nasi, ou Beatriz de Luna, ou Hanna Mendes, ou ainda qualquer outra das combinações destes nomes — revelando a necessidade de dissimular a sua presença nos vários locais para onde terá de fugir – Londres, Antuérpia, Amsterdão, Ferrara, Veneza e finalmente Constantinopla – sem nunca perder o controle do seu império financeiro e empresarial, e do seu estatuto junto das mais importantes cortes europeias da sua época.
Nota pessoal: Foi com este livro que a aventura do Ler por aí… começou, bem como o meu interesse pessoal pelo judaísmo português.
Peça de teatro sobre a vida (e morte) de António José da Silva, conhecido como O Judeu, um dos mais importantes dramaturgos da língua portuguesa, perseguido pela Inquisição e morto nas suas fogueiras em 1739. Além de um relato da vida de António José da Silva, esta peça denuncia a falta de liberdade de expressão e artística que, passados cem anos da morte do dramaturgo, ainda se fazia sentir na sociedade portuguesa.
Não é uma lista exaustiva, mas espero que sejam portais para a exploração deste universo, e que estas leituras levem a outras.
Margarida Branco
© Ler por aí… (2023)
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